Mães Pelo Sim

February 7, 2007 at 1:52 pm 23 comments

A vida em dois takes:

Take 1 – acordo, pelas 6h30 da manhã, e a expectativa não me deixa voltar a adormecer. Estamos em junho de 2004 e depois de um aborto espontâneo e de más notícias referentes a um estudo hormonal sinto-me, por um lado, deprimida porque a medicação para me regular os ciclos menstruais não está a funcionar e, por outro, com uma esperança desmedida. Vou para a casa de banho e faço o teste. Minutos depois corro para o quarto, acordo o meu companheiro e iniciamos, nesse momento, a nossa viagem deslumbrante pelos caminhos da maternidade.

Take 2 – Acordo e não quero pensar nisso. O meu filho de 4 meses dorme no berço ao lado da minha cama. Estamos em agosto de 2005 e a maternidade preenche-me a vida. olho-o, sinto-lhe o sono descansado, emociono-me uma vez mais. Vou para a casa de banho e faço o teste. A 1ª vez que olho sinto um alívio desmedido mas de repente gelo e sinto um peso brutal nos ombros. Volto a olhar, a medo, e choro. Choro muito. O meu filho tem 4 meses, eu estou desempregada. E grávida.

O meu filho nasceu em abril de 2005. Uma criança planeadíssima, desejadíssima. A minha filha nasceu em Março de 2006. De uma gravidez não planeada, na pior altura possível. A minha filha nasceu porque eu tenho um companheiro ao meu lado. A minha filha nasceu porque temos uma família que nos apoia. A minha filha nasceu porque temos a possibilidade de lhe dar uma vida com as condições que consideramos satisfatórias para que seja feliz.
Eu sou uma mulher com um diagnóstico de síndrome de ovários poliquísticos. Fui encaminhada para consulta de infertilidade antes da minha 1ª gravidez. Vivo num centro urbano e tenho educação superior.
E tive que me confrontar com uma gravidez indesejada.
Coloquemos agora esta mesma história de vida num bairro social, numa família disfuncional.
Coloquemos agora esta mesma história numa aldeia perdida do interior do país, numa família numerosa e sem recursos.
Eu voto Sim porque a gravidez não planeada é uma realidade. Eu voto Sim porque não vivemos numa sociedade perfeita e, infelizmente, muitas são as famílias que não têm os recursos mínimos para subsistir. Eu voto SIm porque despenalizando a IVG poderemos, aí sim, chegar a estas famílias sofridas e apresentar-lhes outros recursos e opções.

InêsN, mãe do Diogo (22 meses) e da Sara (quase 11 meses)

Entry filed under: Artigos, Artigos do Sim.

Votar Não é manter o aborto como crime. E o aborto clandestino como norma. No dia 11 vou votar Sim

23 Comments Add your own

  • 1. Rosa Pomar  |  February 7, 2007 at 3:21 pm

    Boa, Inês!

    Reply
  • 2. JoaoLuc  |  February 7, 2007 at 4:30 pm

    Fica sempre esta sensação incómoda que é necessário alguma humilhação publica para mostrar a força e a sensatez dos argumentos anti-criminalizadores.

    Reply
  • 3. lia  |  February 7, 2007 at 4:47 pm

    fantástico, Inês, Obrigada!
    :o)

    Reply
  • 4. Liliana  |  February 7, 2007 at 4:49 pm

    Boa!

    Reply
  • 5. Maria João  |  February 7, 2007 at 4:59 pm

    Inês: só para lhe dizer que as raparigas dos interiores das aldeias se querem fazer um aborto não vão dirigir-se a um hospital público para o efeito. Apesar da despenalização, as raparigas da aldeia vão continuar a fazer os abortos às escondidas. Quem não tem coragem para assumir uma gravidez, também nao tem coragem para, publicamente, preencher uma ficha num hospital. A despenalização do aborto apenas servirá para as tais raparigas urbanas, esclarecidas e que sabem muito bem o que são métodos contraceptivos. O facto de se gerar uma consciência social de que o aborto não é crime, apenas fará com que o aborto seja visto como um método contraceptivo. Nada mais. Temos tantos problemas sociais que precisam de ser resolvidos. Não vamos criar mais um. Vamos, sim, educar os jovens para a sexualidade, para a responsabilidade, para o respeito, para o amor … No caso da Inês, parece-me que nem sequer ponderou a hipótese de “abortar” a sua filha, já que lutou tanto para ter o seu filho …. Seria quase um contra-senso, não acha?

    Reply
  • 6. Rita  |  February 7, 2007 at 5:17 pm

    Excelente testemunho.

    Reply
  • 7. Sandra  |  February 7, 2007 at 5:55 pm

    E esta ein?

    Muito bem Inês….. na tua situação não teria meios ( financeiros e psicológicos ) para aguentar essa notícia…

    P.S. Tenho uma filha da idade do teu menino lindo, ela faz 2 anos a 22 de Fevereiro.

    Beijos

    Sandra
    Madeira

    Reply
  • 8. Miragem  |  February 7, 2007 at 6:00 pm

    Touché!!!

    Reply
  • 9. Cidalia  |  February 7, 2007 at 6:53 pm

    Simplesmente … Lindo!!!

    Reply
  • 10. Mãe  |  February 7, 2007 at 7:03 pm

    :)
    Muito bem Inês.
    Estou à espera de ver também o meu testemunho publicado no “Mães pelo Sim”. Acredito que o facto de sermos mães nos faz também pesar ainda mais a maternidade, não pelo trabalho, nem pela despesa, nem por nada disso, ma spelo facto de podermos privar os filhos que já temos de seja lá o que for por resolvermos ter outro.Por vezes ter mais um filho também pode ser um acto egoísta…

    Reply
  • 11. vanessa  |  February 7, 2007 at 7:19 pm

    Só tu poderias deixar um testemunho tão humano, Inês.
    Admiro-te por tudo o que és e tudo aquilo que conquistaste, especialmente os teus dois filhotes lindos.
    Espero que também tu possas, com estas as tuas palavras, esclarecer algumas pessoas que ainda se encontrem baralhadas.
    Muitos beijinhos.

    Reply
  • 12. sara  |  February 7, 2007 at 9:36 pm

    Concordo a 100%.
    Mesmo que não imaginemos vir a fazer um aborto, não podemos deixar de pensar que nem todas as mulheres vivem nas mesmas condições.

    Reply
  • 13. Ana  |  February 7, 2007 at 11:05 pm

    Essa é que é essa! Gostei!

    Reply
  • 14. inesn  |  February 7, 2007 at 11:14 pm

    Maria João: só para lhe dizer que se as coisas se mantiverem como até aqui, aí sim, de certeza que as as raparigas dos interiores das aldeias se quiserem fazer um aborto não vão dirigir-se a um hospital público para o efeito…

    e não, não ponderei abortar.

    mas aqui não se trata de MIM, trata-se de NÓS.

    Reply
  • 15. Ana Costa  |  February 8, 2007 at 2:04 am

    O teu testemunho é mesmo a realidade de muita gente. Felizmente tivestes uns bons alicerces familiares que te ajudaram, mas por todas as mulheres que não os têm, tambem voto SIM. BEIJOCA

    Reply
  • 16. M.  |  February 8, 2007 at 10:12 am

    É isso mesmo que eu sinto Inês! Trata-se de NÓS!

    Reply
  • 17. Rita Q.  |  February 8, 2007 at 11:22 am

    Gostei muito

    Reply
  • 18. Ana Parra  |  February 8, 2007 at 1:48 pm

    Inês adorei o teu testemunho e como sempre concordo plenamente com a tua opinião.
    Voto Sim

    Reply
  • 19. Amélia  |  February 8, 2007 at 6:05 pm

    Era bom que todas as mulheres e crianças pudessem ter uma opção e uma oportunidade. Mas a realidade é bem diferente, basta ver as que apontaste, mais, há quem não aborte porque não tem dinheiro para abortar, deixa lá vir! e há ainda por exemplo, em Portugal, o conjunto de mulheres maltratadas e violentadas dentro de casa, sem qualquer tipo de auxílio, que vivem no desespero. Mães e filhas. Porque é que abortam?
    Só podemos saber porque é que abortam e contrariar esse sentido depois da legalização! Não vamos lá com paninhos quentes: então?, olhe, sabe, há opções…tá a ver?
    Ainda há quem não saiba destas tragédias?
    Voto na mudança. Tem que ser!

    Reply
  • 20. Encantada  |  February 8, 2007 at 7:38 pm

    Inês:

    Gostei muito deste teu texto. E parabéns pela tua sensibilidade.

    Reply
  • 21. Joana  |  February 8, 2007 at 8:37 pm

    Parabéns pelo teu testemunho humano e sincero!
    Votamos Sim porque se trata de Nós, como dizes.
    :)

    Reply
  • 22. Leonor Silveira  |  February 9, 2007 at 2:35 am

    Foste sem dúvida uma mulher corajosa!!!
    O teu testemunho é mais uma prova que dia 11 temos que despenalizar a IVG e não permitir a punição das mulheres que nas mais variadas situações recorrem ao aborto…
    Embora esta questão afecte todas as mulheres são as que vivem em condições mais precárias as mais fragilizadas.
    É importante que todas as forças se mobilizem nesta luta e que juntos consigamos deitar abaixo esta lei hipócrita!!!

    Reply
  • 23. Sónia  |  February 9, 2007 at 2:50 pm

    Boa Inês!

    Sempre te achei corajosa! Mais uma prova disso!
    Parabéns pelo teu texto!

    Reply

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